 As crianças crescem e saem de casa- por que sofremos? - parte 2Uma
mãe ou qualquer outra pessoa responsável pelo cuidado de uma criança, seja
filho, neto ou sobrinho, dedica uma parte substancial de seu tempo para criar e
educar este ser humano em formação.
Independente
do fato de trabalhar fora ou dentro de casa, na grande maioria dos casos, mães
e cuidadoras tem como foco principal de suas vidas o cuidado com seus
filhos/crianças. Nos primeiros anos, cuidados com a segurança, higiene,
alimentação, estímulos para o aprendizado motor e intelectual, consomem tempo e
energia de quem cuida.
Senhores pais ou responsáveis...
Quando
as crianças estão em período escolar, acompanhamos o estudo, ensinamos padrões
do que é certo e errado, educação e ética, a cada dia. São anos repetindo as
mesmas frases e lições, até que consigam ter autonomia para cuidar de seu
próprio corpo e higiene, de seu próprio estudo e atividades, de sua autoestima
e de seus interesses. Atire a primeira pedra quem nunca disse alguma dessas
frases:
“já
escovou os dentes? Penteou os cabelos? Tomou banho”?
“não
esquece de passar desodorante!”
“já
é hora de dormir!”
“Tem
lição de casa hoje? É para fazer assim que acabar de comer”!
“já
estudou para a prova?”
“Faça
o favor de colocar uma meia no pé e um casaco! Não quero te ver resfriado”
“Você
não está comendo direito! Já comeu fruta hoje”?
Quando
adolescentes, iniciam-se os questionamentos por parte dos jovens: por que os
pais, a estrutura familiar ou a sociedade são assim, por que não pode mudar?
Tenho certeza que se você mesmo puxar pela memória, lembrará de seus
pensamentos e até atitudes desta época!
No meu tempo não era assim... será?
Querer sair de casa, viver experiências
diferentes, ter liberdade e autonomia de ação e expressão, são desejos comuns
de muitos jovens. O problema começa quando são vistos como uma ameaça pelos
pais ou tutores, ou uma afronta/ofensa pessoal, ou ingratidão frente a tudo o
que lhes foi proporcionado.
Quantas
vezes os pais não ficam indignados ao ouvirem seus filhos, sentindo cada
palavra como uma crítica feroz, e uma desvalorização de suas horas perdidas,
anos a fio, educando ou trabalhando para dar tudo do bom e do melhor?
Adoramos
a frase “no meu tempo não era assim”, mas esquecemos que nossos pais e avós já
falavam a mesma coisa. O que me leva a pensar que nunca fomos tão diferentes,
afinal, quando assumimos os papéis de nossas vidas!
Outra
frase ótima – e clichê- é: “enquanto você morar na minha casa/ não pagar suas
contas, você não manda nada/não tem querer”. Como somos poderosos, não? Enquanto estiverem sob o mesmo teto, você tem
tudo sob controle...
Até que aquele adolescente cresce mais um
pouco, e os rumos vão mudando:
-
um curso ou formação que querem fazer em outra cidade ou mesmo outro país;
-
um novo emprego, que possibilita que este jovem vá morar fora de casa;
-
a união com outra pessoa, criando outro núcleo familiar.
-
ir morar numa casa compartilhada...
Suas
palavras, sua autoridade, seus cuidados, agora não tem mais um alvo, uma pessoa
a quem se dirigirem. O que será que acontece então?
Eles já não estão em casa!
E
então a rotina de quem cuidava deste ser humano em formação muda. Você olha ao
redor e não tem:
- o quarto para arrumar;
-
um monte de roupa para lavar;
-
que dar bronca nem conselho;
-
que lembrar ninguém das obrigações;
-
horário, nem para quem fazer a comida;
-
a rotina de levar ou buscar filho no curso, na balada;
-
nem como rir das descobertas deste mundo que se abre a eles!
A
casa fica vazia. Sua vida fica vazia. Começa a sobrar muito tempo livre, tempo
ocioso, e quem antes cuidava fica perdido em meio ao silêncio da casa. o que fazer agora?
Perguntas
que ouço com frequência:
“Agora
que não tenho que cozinhar para três ou quatro, qual é o sentido de fazer
comida”?
“Se
você não tem que levantar cedo para acordar ninguém, para que levantar da
cama”?
“Se você não tem que colocar tanto dinheiro em
casa, qual o sentido de trabalhar tanto”?
Estas
podem ser perguntas que passem pela cabeça de quem começa a lidar com a
ausência dos filhos.
Sofremos
com a ausência dos jovens em casa porque a vida torna-se vazia de atividades e
com muito tempo extra. A energia gasta com o “cuidar” agora está sem foco, e
não sabemos o que fazer com ela.
Na
medicina oriental dizemos que energia acumulada ou parada traz o desequilíbrio,
que é sinônimo de doenças, seja no corpo, seja no emocional.
Mas será que passar por isto é obrigatório?
É
o que veremos no próximo artigo sobre este assunto.
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